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Direita usa a indignação popular contra a corrupção para tomar conta dos protestos

Imagem: Comunicação da Intersindical
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Os manifestantes que ocuparam as ruas das principais capitais do País neste domingo (13) se somaram à voz de uma direita conservadora e regressiva, convocada por grandes empresários e líderes políticos, sobretudo do PSDB e PMDB.

Entidades empresariais como a Federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp) e a Associação Comercial de São Paulo investiram na convocação ao ato. Ganharam, por exemplo, a adesão da rede de alimentação Habib’s –que tentou obrigar seus funcionários a participarem do ato, mas foi impedida por uma liminar judicial–, e de veículos de comunicação, como a Rede Globo de Televisão, que autorizou e fez questão de noticiar a presença de seus atores e atrizes nas manifestações.

Desde o final de 2014, a indignação contra a corrupção e o governo Dilma ganhou a liderança de grupos como o Movimento Brasil Livre, além do apoio de entidades empresariais, de veículos de comunicação e a articulação de políticos, segundo o pesquisador PabloOrtellado,do curso de gestão de políticas públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

“Esses agentes subordinam a justa indignação popular contra a corrupção à agenda liberal de reformas que deve subtrair direitos da população. Articulam também a substituição dos grupos políticos denunciados por corrupção por outros sobre os quais recaem suspeitas tão ou mais graves”, afirma Ortellado.

A manifestação em São Paulo, segundo ele,mostrou mais uma vez um grau muito grande de mobilização da classe média profissional branca, de escolaridade e renda alta. De acordo com o Datafolha, 26% dos participantes ganham entre 5 e 10 salários mínimos e 24% entre 10 e 20 salários mínimos. Para além das entidades patronais foi observado apenas um caminhão da Força Sindical.

Em Porto Alegre (RS), segundo o jornal gaúcho Zero Hora, 40% dos participantes recebem mais de 10 salários mínimos, 76% delesvotaram em Aécio e 73% não têm desempregados na família.

“Ano passado coordenei pesquisas de opinião com os manifestantes mobilizados nos protestos de abril e de agosto contra o governo federal. Os dados mostraram que os participantes dos atos em São Paulo desconfiam muito do PT, mas não têm confiança nos outros partidos e nos grandes meios de comunicação. Tudo indica que a maioria dos manifestantes que pede o impeachment é a favor de nosso sistema constitucional de direitos. Essa não é, porém, a impressão que temos ao acompanhar os protestos”, ressalta o pesquisador.

A grande massa que esteve nos protestos, diz Ortellado, defende o caráter público, universal e gratuito do sistema de educação e do sistema de saúde. A maior parte deles defende direitos individuais, como a união homoafetiva, mas se colocou ao lado de defensores de uma agenda retrógrada.

Ortellado questiona por que esses setores e manifestantes se colocaram sob a liderança de grupos, como o Movimento Brasil Livre, que pregam a privatização e o desmonte do sistema público de saúde e educação. E faz alguns questionamentos: “Por que os manifestantes toleraram a participação de skinheads, de defensores da intervenção militar, de nazistas e de grupos que querem impedir que homossexuais constituam família?Por que os manifestantes fizeram apologia de uma Polícia Militar que é sistematicamente acusada de desrespeitar os direitos humanos? Por que aceitam que o afastamento da presidente Dilma seja conduzido e termine por beneficiar políticos como o deputado Eduardo Cunha, acusado de participar dos desvios da Petrobras?”.

Em Brasília, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), ídolo dos racistas, machistas, homofóbicos e dos que defendem saídas autoritárias da ultradireita, foi aplaudido ao dizer: “Aos amigos da área rural, no que depender de mim, vocês tem de ter como cartão de visitas para os marginais do MST um fuzil 762”.

Em São Paulo, um grupo de manifestantes fez a saudação nazista sem ser interpelado por ninguém. Políticos como Aécio Neves (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marta Suplicy (PMDB) foram hostilizados, o que demonstra que a campanha que a direita vem fazendo também foge do próprio controle deles.

Em Curitiba e outras capitais, o juiz Sergio Moro foi lembrado como um herói nacional na luta contra a corrupção.

Ortelladolembra que em 1989, o candidato a presidente Fernando Collor de Mello foi eleito com a plataforma de combate “aos marajás”, apenas para sofrer, pouco depois, um processo de impeachment. “Essa memória histórica deveria funcionar como um alerta”, diz o pesquisador.

Foto: Filipe Araújo

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