“Estamos à deriva com este governo tão irresponsável e criminoso ” afirma Eleonora de Lucena

Imagem: Comunicação da Intersindical
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Eleonora de Lucena, jornalista do Tutaméia e coordenadora do “Brasil Nação”, é entrevistada por Edson Carneiro Índio, Secretário Geral da Intersindical, e abre o verbo sobre a conjuntura brasileira.

Índio: “ E daí? ’’. Esta foi a resposta de Bolsonaro quando questionado sobre o número de mortos no país. Como você Eleonora avalia essa fala dele? Temos ainda as declarações do Moro, que revelam ainda mais a natureza do governo. Como você enxerga tudo isso?

Eleonora de Lucena: E uma parte da nossa história que estamos enfrentando, nitidamente uma situação muito adversa, com um governo destrutivo que não está dando mínima bola para população. Essa declaração revela bem o sentimento dele para o povo; é uma visão abjeta que ele tem sobre as pessoas, nunca vi uma pessoa em todo tempo que tenho no jornalismo, com um comportamento tão nojento, criminoso. As ações dele, de fato, estão provando mortes no Brasil, estamos morrendo e isso é fruto de uma política muito ruim. Apesar da pandemia ser dramática, ele não está nem aí, as pessoas não precisam morrer deste jeito, mas ele não se importa. O governo tem sabotado iniciativas de apoio à população, basta ver a demora no pagamento do auxílio emergencial, as pessoas tendo que sair de casa para buscar o auxílio, enfrentar filas em bancos, isso é ridículo. Então é um governo que age para minar as condições de combate a pandemia. O Brasil precisava de um outro tipo de encaminhamento que enfrentasse os problemas da saúde, da economia e da política. Estamos à deriva com este governo tão irresponsável e criminoso.

Índio: A partir do Projeto “Brasil Nação” você tem discutido com diversos economistas, pensadores, intelectuais, você tem falado já a um tempo, não é de agora, sobre a ausência de um projeto mais global de nação de um País, mas a necessidade disso agora e mais ainda importante, a questão sobre rentismo, por exemplo. Qual a importância do povo e das organizações de forjarem um projeto democrático nesse momento?

Eleonora de Lucena: O projeto “Brasil Nação” completou agora três anos, ele foi lançando na USP na faculdade direito, a partir daí temos discutido temas importantes para o país. É uma iniciativa que se soma a muitas outras e que após 2016, quando houve um golpe, começamos a discutir saídas para isso e hoje está muito claro porque os ataques continuam. Esse governo é fruto de um processo eleitoral bastante peculiar, então o Brasil perde democracia, destrói a base econômica com a privatização desenfreada, não só Petrobras. Os instrumentos de políticas públicas foram devastados e o Brasil ficou muito mais vulnerável, e a gente para sair desse enrosco, precisamos ter um projeto, saber o que fazer no Brasil. Nosso país vive de recurso naturais, então teria que a ideia de país que não seja para empresas exportadoras e sim um país para sua população, que produza bem-estar, saúde, educação. Quem está sentido o efeito dessa política são os mais pobres, nos caminhamos para um pais cada vez mais com desigualdade e para recompor isso é preciso que várias entidades apresentem uma proposta de país e sair dessa depressão que a gente está.

Índio: Você foi editora chefe da Folha de São Paulo por um bom tempo, a Rede Globo no início da pandemia fez uma movimentação que parecia defender a intervenção do estado e depois veio esse jogo de Paulo Guedes e Braga Neto e nessa semana a Globo já fez a defesa do ajuste fiscal. Quais são as forças sociais que a gente conta para defender a soberania e possibilidades para sair desse processo?

Eleonora de Lucena: O golpe contra a democracia começou em 2016, no processo do impeachment da Dilma, onde começou-se a construir o nacionalismo de mentira. A elite brasileira se aliou aos interesses dos EUA, inclusive setores militares que se passam por nacionalistas, mas na verdade conduzem um projeto de venda do patrimônio público. Os meios de comunicação adotaram essa ideologia da elite e trabalham para isso, a eventual crítica ao Bolsonaro não é razão para abandonar esse projeto entreguista, que continua sendo feito pelos donos do poder. É um projeto de mais arrocho e mais entrega, infelizmente é um projeto que está vigorando e isso que precisa ser discutido, como a oposição pode mudar isso, porque já está se falando de governo genocida.

Índio: Queria que você comentasse a política externa do País nesse contexto ou a sua ausência. Vemos a necessidade de articulação dos governos e dos estados e o Bolsonaro não se cansa de prestar continência ao Trump.

Eleonora de Lucena: E muito importante os caminhos que alguns países fizeram como a China e Cuba, por exemplo, tiveram atitudes de solidariedade para o combate dessa pandemia, fizeram colaboração internacional. Infelizmente, alguns países ao contrário, fizeram muita disputa, sem solidariedade, disputa de equipamentos e insumos médicos. O Brasil e EUA, com essa visão errada, estão se isolando, é uma situação que faz a população de ambos os países sofram muito. O próprio Trump já sabia da disseminação dessa pandemia, demonstrando que os EUA deveriam ter tomado as medidas e cuidados desde início. Então é uma das características destes governos negar a coerência, houveram cortes na ciência aqui e nos EUA, o não investimento de saúde pública, que isso significa morte.

No Brasil temos a política de destruição do serviço de saúde, que hoje vemos as filas nos hospitais que também representa morte. O Brasil tem excelentes pesquisadores, infectologistas que tiveram seus instrumentos de pesquisa cortados, hoje o Brasil está mais vulnerável no serviço de pesquisas, isso é o governo da morte.

Índio: Você citou a necessidade de investimento, com saúde, pesquisas. O debate que o estado não tem dinheiro e de repente o dinheiro aparece, conversamos com muitas pessoas e falamos da importância dos SUS estatal e não privatizado, nesse momento o que podemos aproveitar e elevar o grau de consciência e superar essas dificuldades. Como podemos cravar na opinião pública os instrumentos que estado dispõe?

Eleonora de Lucena: Exige uma ação de estado que supere estas condições, que faça que as pessoas não percam o emprego, que garanta bons salários, não com burocracia, não essa merreca, exigimos esforço industrial para que a gente produza estes materiais, como equipamentos médicos. Necessitamos de uma visão conjunta, que compreenda o estado e os trabalhadores, em uma direção única de superara essa situação. Porque as pessoas não estão aderindo a quarentena, porque não podem, porque precisam trabalhar, então e dever do estado dar as condições para pessoas ficarem em casa. São medidas que o mundo inteiro está fazendo porque é uma situação excepcional. É mais que provável que os países que anteciparam a volta não consigam melhorar economia, só antecipar mortes. Então a quarentena é muito importante de ser mantida, o movimento sindical tem papel importantíssimo nesse momento, os trabalhadores estão sendo obrigados a trabalhar sem segurança e sem equipamentos. Isso é um fator que está levando a morte das pessoas, essa pandemia está atingindo os mais pobres e trabalhadores. O que aconteceu em Bergamo, na Itália, o poder público obrigou as fábricas a trabalhar, não fazer a quarentena, e a gente viu que aconteceu, caminhões de corpos saindo de Bergamo porque não tinham onde enterrar os trabalhadores. Estamos vendo em Manaus o que está acontecendo e isso também é fruto de uma visão criminosa, porque as empresas estão trabalhando e sem proteção, isso não é uma condição que se deva aceitar.

Índio: O projeto de reindustrialização seriam entre outras coisas, orientar às indústrias no sentido de fornecerem materiais para SUS, temos também carência de saneamento básico, e outras demandas urbanas pelo Brasil a fora. Satisfazer estas demandas poderia ser um caminho que país no sentido de se reindustrializar?

Eleonora de Lucena: Acho que muita coisa precisa ser feita o Brasil, tem condições de fazer, mas precisa de governo bom para isso, não é problema de falta de dinheiro, ele está mal distribuído, o governo não está preocupado em socorrer a população. Tem muitas medidas a serem tomadas, como os hotéis ociosos em Londres que foram destinados às pessoas sem teto, para abrigarem que precisa, porque estas estruturas que já existem estão disponíveis, basta então utilizá-las para ajudar, servir as pessoas. Precisamos atuar de maneira conjunta na área econômica, social, comunicação, saúde, ciência. Agora vemos iniciativas bacanas como alguns lugares no Nordeste que tem comitê cientifico que está tentando construir estas pontes entre várias áreas e visões estratégicas. O governo atual tem visão completamente errada, iniciativas que tem tomando são ridículas, precisa fazer mais, ajudar pequenas empresas, financiar fundo perdido e vamos olhar os outros países, ter uma visão mais global, esse governo não pode mais continuar, precisamos tirar imediatamente Jair Bolsonaro do poder, porque ele está provocando mortes e está querendo colocar o Brasil mais dentro do buraco que ele está cavando.

ASSISTA À ENTREVISTA COMPLETA AQUI:

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