Sammer Siman | E quem paga a conta da crise?

conta da crise
Imagem: Comunicação da Intersindical
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  • Sammer Siman*

E agora José?
A festa acabou. A luz se apagou…

Que o de cima sobe e o de baixo desce é uma lição que aprendemos desde que o mundo é mundo, ou, melhor dizendo, desde que o Brasil é Brasil, pelo menos a julgar por esse capítulo que beira a 516 anos de história. A desigualdade estrutura nossas relações e quanto a isso nem Deus duvida.

O que diferencia cada momento histórico pelo qual passamos é, via de regra, o horizonte de expectativas que embala as maiorias: Exemplo foi a última década em que cresceram aspirações sociais diversas, e não sem razão: Uma parcela expressiva da população passou a se alimentar e a se vestir melhor; muitos(as) acessaram o ensino superior; muitos(as) que estavam na Universidade vislumbraram um bom emprego, e por aí vai.

No entanto, a festa acabou. Pareceu heresia quando dissemos há pouco mais de um ano atrás que, fosse Dilma, fosse Aécio, a crise era anunciada e nenhum destes governos enfrentaria o “tal” mercado. Isso num tempo de olé olé, oba oba, Dilmãe, coração valente não foi uma afirmação trivial, mas se existe algo certo é que só quem pode julgar é a história.

De lá pra cá, a vaca tossiu, resfriou, pegou pneumonia e agora segue se lambuzando no brejo. Direitos trabalhistas foram cortados, a exemplo das alterações da regra do seguro desemprego; um mar de lama matou gente e rio diante de um silêncio rotundo dos governos, conforme denunciamos; a presidente vetou a auditoria da dívida pública aprovada no Plano Plurianual do Orçamento pelo Congresso (sim, o tal mais conservador da história!), o Senado recentemente entregou o Pré-Sal pras multinacionais e a celeuma continua: Reforma da Previdência à vista para adular ainda mais o tal “mercado” e botar a conta no lombo do trabalhador, PL 555 pra entregar as empresas públicas e estatais, e por aí vai.

No âmbito do serviço público, parafraseando Mr. Catra, o bagulho ficou sério. Se em 2015 o chicote estalou no lombo das Universidades, da saúde, da educação em geral e de outros serviços que já nem mais parecem essenciais, o ano de 2016 já traz novidades reveladoras.

Talvez a maior delas seja anúncios de cortes no âmbito do judiciário, o poder mais conservador deste país, o panteão da tragédia do povo, que encarcera pretos e pobres enquanto alguns seguem impunes diante de helicópteros abarrotados de pó. No entanto, tais anúncios são reveladores. A propósito, quem pagará a conta?

No caso do judiciário, será também o trabalhador, ou seja, os seus servidores. Salários congelados, novos concursos não serão realizados, as condições de trabalho deterioradas e, quiçá, demissões ocorrerão. Já para os magistrados – os tais juízes togados – não estarão em questão as farras das férias remuneradas, o 14º salário e um dos maiores ESCÂNDALOS do período republicano, o auxílio moradia que repassa cerca de 60 mil reais por ano para cada juiz, uma casta que, definitivamente, não sofre com a falta de moradia – o máximo que fazem a respeito deste tema é despejar famílias de sem tetos que ocupam terrenos ociosos para sobreviver.

Definitivamente, a festa acabou. E se não reagirmos à altura, do ponto de vista da organização da classe, guardanapo sujo vai virar bolo enquanto a música seguirá sendo ditada pela minoria abastada que, na saúde ou na doença, na pobreza ou na riqueza, segue engordando os burros nessa pátria amada e irrealizada chamada Brasil.

*Sammer Siman é dirigente do movimento popular de luta por moradia, Brigadas Populares, filiada à Intersindical – Central da Classe Trabalhadora.

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