“Os trabalhadores têm dois espaços de luta: as ruas e os locais de trabalho”

Imagem: Comunicação da Intersindical
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O professor de Ciência Política da Universidade Estadual da Bahia (UNEB) Milton Pinheiro falou em entrevista ao Correio Bancário, jornal do Sindibancários/ES, sobre a crise que assola o país. Na sua avaliação, esse é um momento de oportunidade para a reação da classe trabalhadora.

Como o senhor analisa o momento de crise que passa o Brasil?
O país está envolvido numa grave crise econômica, que está no bojo da crise sistêmica do capitalismo. As medidas propostas pelo governo não resolvem, só aprofundam os impactos sobre os trabalhadores.

Qual foi o gatilho para o aprofundamento da crise?
Em determinado momento, os recursos de investimento do Capital fugiram da crise na Europa e Estados Unidos vindo para a periferia. Nesse sentido, o Brasil foi beneficiado. Esse capital volátil que estava no Brasil, na África do Sul, no México, volta ao seu berço natural, deixando a capacidade de rolar a dívida no Brasil muito pequena.

O Governo Dilma (PT) não soube lidar com essa situação?
O capital circula num movimento internacional que ele mesmo cria, onde estiver mais sólido o papel público ele transita. O problema é que no Brasil o governo não foi capaz de fazer uma política que afastasse do orçamento a questão do superávit. Se o Brasil conseguir reduzir os recursos que tem para a remuneração da dívida e investir na sociedade brasileira, no trabalho, no emprego, em políticas públicas, isso vai gerar, com certeza, o desenvolvimento sustentável. Mas se continuar fazendo política monetarista de controle do déficit público a partir do superávit primário cada dia maior, a situação do Brasil e do povo vai entrar em processo de extremo problema. O que o Brasil destina para pagamento de juros prejudica o espaço produtivo brasileiro, aumenta o desemprego, impede que o Estado aja para operar na política pública.

As medidas de ajuste fiscal atingem, sobretudo, os trabalhadores.
É a opção que tem maior capacidade de envolvimento da bancada que apoia os diversos segmentos da burguesia brasileira no Congresso Nacional. Só que a gente pode passar por um processo de recessão e quase estagnação econômica, intenso desemprego, incapacidade de o Estado investir em politica pública. Para se ter ideia, aquilo que é marca registrada do governo, estou falando de Prouni e Fies, sofreu redução em 50%. Ainda assim, o governo pegou R$ 12 bilhões do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e colocou no BNDES para que fossem emprestados ao empresariado. Então o governo escolheu a política mais fácil para não gerar contradição com os capitalistas.

Apesar de fazer essa política pró-empresariado, o governo enfrenta uma oposição que representa essa elite. Como se explica isso?
É o velho preconceito que existe sobre o perfil de trabalhador que, em tese, o PT ainda tem. Embora faça toda a política que o Capital deseja, o PT ainda sofre preconceito por parte das elites.

E nesse cenário, projetos que desregulamentam direitos estão sendo votados no Congresso Nacional por governistas e uma oposição que não representa os trabalhadores. O que resta à classe trabalhadora então?
Os trabalhadores têm dois espaços de luta. As ruas e os locais de trabalho. É uma luta para preservar direitos, avançar em conquistas e se manifestar na política geral combatendo iniciativas do governo e propostas de direita.

O senhor afirma que “nunca ocorre uma revolução na zona de conforto do capitalismo”. Podemos dizer então que esse momento de crise do capitalismo é também um momento de oportunidade para os trabalhadores?
Sim, são janelas de oportunidade. Abrem perspectivas consistentes na luta de classe. E aquela classe social que se mostrar na vanguarda do processo ou rompe a ordem estabelecida e faz a revolução, no caso dos trabalhadores, ou, no caso da burguesia, reafirma seus interesses massacrando os trabalhadores. Então, a cena política está em aberto. Eu acredito que a movimentação dos trabalhadores pode avançar nesse sentido.

Para muitos a revolução socialista parece algo distante…
Eu tenho uma firme convicção, não é discurso ideológico, é uma análise da realidade concreta. A humanidade vai buscar construir situações para impedir a sua destruição, a barbárie. Isso se dará primeiro pela defesa dos seus interesses e, num segundo momento, os trabalhadores entendendo que a ação política de classe levará à preservação geral da sua vida social. E essa revolução com certeza será em defesa da humanidade. Essa revolução tem nome, é a revolução socialista, independente dos erros e equívocos do passado.

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