Em carta da XVI Assembleia, povo Xukuru afirma que não reconhece governo provisório de Michel Temer

Imagem: Comunicação da Intersindical
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O povo Xukuru do Ororubá, do agreste de Pernambuco, realizou entre os dias 16 e 20 de maio a XVI Assembleia do povo, encerrada com a tradicional descida da Serra do Ororubá para a rua no município de Pesqueira em que o cacique Xikão Xukuru foi assassinado, em 1998. Em carta divulgada ao fim do encontro, os Xukuru afirmam que não reconhecem o governo provisório do presidente interino Michel Temer.

Os Xukuru ressaltam a construção do projeto de vida do povo, garantindo a participação das aldeias que compõem a terra indígena, e mostram disposição de, ao lado dos povos indígenas do Brasil, enfrentar a conjuntura de ataques aos direitos indígenas.

Leia na íntegra:

POVO XUKURU DO ORORUBA

CARTA DA XVI ASSEMBLEIA DO POVO XUKURU DO ORORUBÁ

19 de maio de 2016

Nós, Guerreiros e Guerreiras Xukuru do Ororubá, orientados pelos saberes dos nossos encantos de luz, nos reunimos na Aldeia Pedra D’água, nos dias 17, 18 e 19 de Maio, na realização da XVI Assembleia Xukuru, que teve como Tema: “Limolaigo Toípe – Nossa Educação é nossa resistência”, com representantes das aldeias: Pão de Açúcar, Pé de Serra de São Sebastião, Pé de Serra dos Nogueiras, Cana Brava, Brejinho, Afetos, Caípe, Caetano, Couro Dantas, Oiti, Caldeirão, Capim de Planta, Lagoa, Cimbres, Sucupira, Guarda, Jatobá, Pedra d`água, Curral Velho, São José, Gitó, Mascarenhas, Santana, Passagem, Pau Ferro, Cajueiro e os indígenas da cidade; além dos parceiros e aliados do nosso povo. Durante esses dias discutimos caminhos que apontam para uma prática de educação que represente com profundidade a maneira de ser e viver Xucuru.

Passados 24 anos na trajetória da construção da política de Educação Escolar indígena Xukuru, esta Assembleia propõe uma avaliação desse período, com o propósito de perceber nossas limitações e planejar estratégias que elevem a qualidade de ensino e, principalmente, que a educação Xukuru,  cada vez mais, esteja pautada na valorização da identidade do nosso povo, que passa pela relação com a terra, no cuidado e na vivência com a natureza sagrada, sendo esses os princípios de nossa  agricultura, que identifica a forma que vivemos e convivemos nesse território.

Para essa edição, nossa Assembleia teve a preocupação de uma maior participação das comunidades no processo de construção, através da pré-assembleia, que ocorreu entre os dias 11 a 17 de abril. Na oportunidade foi realizada uma escuta, onde as comunidades puderam expor seus olhares sobre a educação que temos e vivenciamos. Entre as várias questões, foi possível identificar que, para nossas comunidades, a educação deve valorizar a agricultura Xukuru, enquanto elemento fundamental da identidade do nosso povo.

A nossa agricultura apresenta uma lógica onde a Natureza Sagrada é o elemento central que determina e possibilita o dialogo de saberes entre o Mundo dos Encantados e o mundo físico material. Sua racionalidade própria permite que os saberes e os conhecimentos tradicionais assumam relevância e possibilitam o avançar na construção de um novo, extremamente comprometido, através de uma relação de fidelidade com nossas origens.

Por esse entendimento, sentimos a necessidade de lançar um olhar sobre o nosso Projeto Político Pedagógico-PPP, assim como, sobre os EIXOS temáticos que orientam a Educação Escolar Xukuru, assim como em todos os povos em Pernambuco, que são: Terra; Identidade; História; Interculturalidade; e Organização.   A XVI Assembleia do Povo Xukuru, aponta para que seja acrescentado o eixo “Agricultura” entendendo que esta, tem como princípios, o Respeito à mãe terra; Garantir o uso fruto do território e a terra livre; Atender as necessidades básicas das famílias e, não o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos. A consciência de cuidado e zelo, e não a exploração da natureza, garantindo a nossa saúde. Esta consciência tem relação íntima com a educação do nosso povo, por ser a agricultura, um princípio organizador, um elemento da identidade Xukuru que representa uma importante expressão cultural do nosso povo, pois se articula a partir dos diversos circuitos de formação existentes no território, a exemplo dos saberes dos terreiros sagrados, nos plantios, nas observações na natureza, nos espaços de prática da religiosidade e nas escolas. É possível afirmar que nosso sistema tradicional de cura e sua dinâmica social promovem a circulação de práticas e saberes dos nossos ancestrais, através dos guardiões da cura Xukuru. Esse circuito possibilita a transmissão, construção e reconstrução de conhecimentos, através de processos próprios de nossa educação, como já se demostra na organização da nossa juventude e seus processos de formação, revelando um alcance de maturidade e sabedoria, ao entender que se faz necessário, para garantir o “futuro da nossa nação”, um constante buscar aos conhecimentos ancestrais através de diálogos com os nossos mais velhos e na comunicação com a mãe terra.

Nesse momento, não podemos deixar de mencionar sobre o que vem ocorrendo hoje no Brasil, no que diz respeito às especificidades da luta dos Povos Indígenas. Faz parte, a mais de 500 anos, a tentativa de destruição da cultura dos Povos Indígenas das Américas.

Inspirados pelas palavras da Liderança Naiton Pataxó Hã Hã Hãe e indignados com o atual contexto da política nacional, afirmamos que NÃO reconhecemos o atual governo, haja vista, o que está em jogo é a institucionalidade democrática. Reconhecemos que não houve muitos avanços para os Povos Indígenas nos últimos anos, no entanto, a perspectiva atual é de muitos retrocessos. Não aceitamos nenhum direito a menos. A formação de novos guerreiros e guerreiras Xukuru, passa pela consciência da manutenção do nosso território, em que pese, a nossa demarcação está resolvida, porém, estanão é a realidade da maioria dos Povos Indígenas no Brasil. Nós  Xukuru entendemos que a demarcação da terra é fundamental  na manutenção de nossos usos, costumes e tradições.

E diga ao Povo que avance!

Leia também: Decreto 8.7808/16 ratifica golpe contra a agricultura familiar, quilombolas, indígenas e a reforma agrária

Fonte: CIMI (Conselho Indigenista Missionário)

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