Ribamar Passos: Os correios são mais do que a entrega de correspondência

Ribamar Passos: Os correios são mais do que a entrega de correspondência
Imagem: Comunicação da Intersindical
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Ribamar Passos, funcionários dos Correios e Secretário de Relações Sindicais da Intersindical analisa a situação dos Correios hoje, e indica que o serviço da empresa vai muito além da entrega de correspondências, é um instrumento de garantia de direitos, e portanto não deve ser privatizado. Assista ao vídeo ao final da entrevista.

Intersindical – Qual a situação atual, da Empresa de Correio no Brasil?

Ribamar – Hoje, os Correios passam por um processo de sucateamento muito grande; é fato que desde 1992 existe a ameaça de um processo de privatização, em 1999 foi apresentada uma lei que transforma em uma S.A, sociedade anônima, que seria um passo para a privatização, nos conseguimos barrar no congresso na Câmara Deputados. De lá pra cá várias leis foram apresentadas neste mesmo sentido, algumas sem êxito. Uma que teve êxito, que foi a medida provisória do governo da presidenta Dilma, na qual abre os Correio como S.A, desde então estamos vivendo o sucateamento. Desde 2011 não se abre concurso para novos trabalhadores, e sem concurso os trabalhadores ficam cada vez mais prejudicados, principalmente a área operacional, estes trabalhadores estão cada vez mais sobrecarregados, temos em torno 85% dos trabalhadores  na área operacional, carteiros e motoristas,  não tendo contratação, e com a demissão em torno 20 mil desde 2011, não houve reposição destes trabalhadores, por consequência tem ocorrido maior adoecimento da categoria. Somasse a isso o maior número de assaltos, porque os Correios deixou de ser só entrega de cartas, hoje você entrega eletrônicos, celulares …e no decorrer do tempo a empresa não trouxe sistema de segurança para inibir estes assaltos aos trabalhadores.

Intersindical – Essas entregas também são consequências de compras pela internet?

Ribamar –Sim, onúmero de compras aumentou e por consequência disso, não há empresa que consiga competir com correios, não pelo monopólio de encomendas, e sim de cartas. Para encomendas tem várias empresas – inclusive multinacionais como FEDEX -, e essas empresas não conseguem chegar em Guaianazes (SP); por exemplo, a FEDEX pega encomenda e repassa para os Correios, nas regiões que tem número grande assaltos, áreas de risco, ela transfere risco para os Correios, que consegue fazer essa entrega, que consegue ser uma empresa eficiente.

Intersindical – Quais são as consequências do sucateamento das empresas dos correios para população em geral?

Ribamar – A má qualidade do serviço, é decorrente da atuação da gestão atual dos Correios, eles têm projeto que é o fim da entrega domiciliar, para você receber a encomenda terá de ter endereço comercial, a periferia ficaria fora. Ferraz de Vasconcelos, por exemplo, os bairros periféricos já não recebem diariamente, essa entrega diária passou por alguns processos, agora tem prazo antecipado. Isso porque hoje o carteiro não é obrigado a passar duas vezes na mesma rua na semana, e isso acarreta atraso na entrega das correspondências que deixam de serem entregues no prazo correto; é muito grave. Por outro lado você tem as demissões na empresa, sem funcionários a população sofre com o serviço precário. Para piorar, este sucateamento pretende fechar algumas unidades da empresa, piorando a capacidade dos Correios de prestarem seus serviços.

Intersindical – Se caso as entregas forem feitas somente no centro, quer dizer haverá uma segregação, uma discriminação no ponto de vista da entrega?

Ribamar– Sim, isso já acontece hoje em dia,por exemplo, a cidade de Suzano, tem 7 bairros que não há entregas de encomendas nem correspondência, a população tem que ir até a unidade dos correios, que fica distante, pegar as vezes duas conduções para retirar uma carta, um boleto; e isso vai aumentar, esse é o projeto do governo Temer para os correios. A ideia é concentrar as correspondências em um centro no qual as pessoas irão retirar suas correspondências.  Além do risco de não receber, ainda tem a possibilidade de violação da correspondência, pois estas estarão expostas em uma caixa aberta, uma caixa postal comunitária. Este modelo foi experimentado na gestão Fernando Henrique Cardoso em 1997 /98 na cidade de São Paulo – em bairros como: União, Vila Nova, Cachoeirinha e outros bairros de cidades da região metropolitana,na época conseguimos barrar esse projeto, porém hoje ele vem com mais força e apoiada pelo Governo Federal.

Intersindical – Qual a importância sistema de correios públicos no Brasil?

Ribamar – A importância é muito grande, porque com os correios públicos você consegue atender o fim socialdo sistema de comunicação, por exemplo, um município com 5, 10 mil habitantes – local onde não possui agências bancárias – a agência dos Correios funciona como Banco Postal e permite que cidadão não precise sair para uma cidade mais longe para retirar, por exemplo, seu pagamento como aposentadoria. Por outro lado, esse indivíduo tem possibilidade de receber em casa sua correspondência e não precisa de endereço fictício, nãonecessita alugar espaçode ninguém, ajuda a população ter desenvolvimento maior. Imagina a cidade que não tem o banco, cidade com número pequeno de habitantes, a renda movimentada é dos aposentados, este recurso circula dentro do próprio município porque é gerido em uma agência local; caso o aposentado vá retirar seudinheiro pra outra cidade ele tende a gastar em outro município e prejudica a economia do seu município de origem. A agência local ajuda a população no acesso a comunicação e direitos, só o correio público pode proporcionar isso,a comunicação é direito do cidadãogarantido na Constituição Federal.

Intersindical – Como esta essa situação financeira do Correios?

Ribamar – Imagina que no ano 2017 a empresa entregou 13 milhões de prova do ENEM, entregues, 60 milhões de livros didáticos; então cumpre papel social, e não foi gratuitamente pelo os Correio fez, teve um custo Governo Nacional do Fundo Nacional de Desenvolvimento. O valor médio pago pelo Sedex é de R$20,00, hoje um trabalhador entrega em média 800 cartas por dia, cada uma custa em torno de R$ 1,65 cada carta, incluído os boletos de grandes empresas, então é só fazer as contas. Um carteiro carregar quase 2 mil reais por dia só de cartas, fora as encomendas que ele leva hoje na região dos grandes centros (cerca de 50 encomendas). Hoje, cada carteiro entrega diariamente 70 cartas registradas, que tem um preço médio de 5 reais, já são mais R$350,00 somados ao valor das cartas convencionais. Estamos falando que um carteiro entrega 2350 a 2500 reais por dia para os Correios.

A empresa que dá lucro, a na gestão Temer – Kassab, Guilherme Campos apresentaram a grande mídia que os Correiosestava dando prejuízo e com isso deveria ser privatizado. Recentemente, ambos mudaram a história e os Correios apareceu com lucro de 680 milhões.

Intersindical – E sobre a perseguição da empresa contra trabalhadores ligados ao movimento sindical, ao sindicato dos Correios? Já tivemos denúncias de perseguição, afastamento arbitrários e até demissões. Como é esse contexto interno da relação entre a direção da empresa e o movimento sindical?

Ribamar – O movimento sindical em geral sofre como defensor da classe trabalhadora, você acaba sofrendo perseguições. Quando eu iniciei meu trabalho nos Correios, eu achava que na empresa pública este tipo de coisa não acontecia, mas acontecem em grande quantidade. Por exemplo, em 1997 fizemos uma grande greve, por conta de 3 mil trabalhadores demitidos, e inclusive tivemos toda uma diretoria do sindicato demitida, e a greve lutava por melhorias, o País estava em recessão e precisávamos lutar contra as demissões. De lá pra cá deu uma estancada, uma reduzida nas demissões, mas a perseguição continua sim, temos trabalhadores afastados por problemas psicológicos, por assédio moral. Tivemos caso de diretores sendo demitidos no Vale do Paraíba (SP), em Minas, por conta de serem ativistas, por defenderem seus direitos, como a uma hora de almoço, almoço que hoje não se pode cumprir, porque devido as grandes filas nas agências eles querem que seja reduzida a hora do almoço. Quando a representação sindical, temos casos de delegados sindicais e cipeiros que entram em atrito com a empresa em defesa do direito dos trabalhadores e acaba sendo perseguido, trocado de turno e horário, perdendo alguns adicionais que complementam sua renda. Motociclista quando briga muito, questiona muito sobre seus direitos é retirado da função e sofre diversos tipos de perseguição, assédio moral.

Intersindical – Quais são as agendas de luta hoje da categoria?

Ribamar– A nossa agenda hoje é contra as demissões, fechamento das agências, sucateamento da empresa, e a privatização dos Correios. Caso isso aconteça, não só os trabalhadores serão prejudicados, mas a população também, os Correios hoje têm em trono 6.400 agências próprias, querem fechar 500, e deixar  5.900 abertas, só que estas  500 representam hoje 1/3 dos trabalhadores, os correios têm hoje tem 6.200 trabalhadores em agências, vão demitir 5.5500 trabalhadores, ou seja , fechar agência próprias, e substituir por uma fraqueada, que é terceirizada, o que vai trazer renda para um único proprietário, e trazer mais prejuízo para população. A nossa luta é contra o fechamento das mesmas, e contra o fim do plano de saúde dos trabalhadores dos Correios, o governo quer acabar com plano de saúde de todas categorias de trabalhadores do Governo Federal. Diante deste quadro, nesse próximo período, a luta vai aumentar.

Intersindical – Ribamar, Você e Secretário de Relações Sindicais da Intersindical. Como tem sido o trabalho da central junto a categoria?

Ribamar – Nós temos acompanhado os Correios, ainda porque eu sou da categoria, mesmo e não atuando na direção do sindicato. Mas há cobrança da categoria por acompanhamento de perto em diversas regiões do país, estamos ajudando a encaminhar a luta. É um período difícil para trabalhadores dos Correios, corremos riso de perder emprego e ver empresa que estamos a 20, 30 anos trabalhando ser entregue a mão da iniciativa privada. Diante disso, a nossa unidade é fundamental.

Vídeo GREVE DOS CORREIOS:

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